Mil Planaltos

[ago 2015]

Baixo Libertas – Sampã/ SP

Encruzilhada das ruas Jaceguay, Abolição, Major Diogo e Professor Laerte Ramos

Matéria: madeira

O projeto dos Mil Planaltos surgiu da necessidade de uma superfície mais amigável aos corpos, tanto em sua matéria mas também em sua forma. Todo o terreno do Baixo Libertas, possui um declive em diagonal bastante peculiar, que sentimos diretamente nas articulações dos joelhos quando ficamos de pé por muito tempo ali. Isso se deve ao fato do viaduto ter criado um vetor de força alheio a todos os outros vetores que coreografavam esse terreno, principalmente o do caminho do Rio do Bixiga. Assim o corpo vive ali justamente essa tensão, esse gesto violento do viaduto que cindiu o bairro do Bixiga em dois. O viaduto produz uma ilusão de plano, cria uma confusão mental que é sentida no corpo. Nas práticas de dança essa confusão se expressava mais fortemente como tensão nos corpos. Por alguns meses dançamos essa tensão, mas os corpos pediam também outras possibilidades menos tensas.

Projetamos os Mil Planaltos enquanto esse espaço de rito do corpo, de descanso dessa tensão, para que assim pudesse atentar-se a outros movimentos, outras danças. Um platô elevado de madeira, cujos degraus se deixavam coreografar pela tensão dos vetores de força ali presentes, gerando uma defasagem irregular de um para o outro e uma sensação de giro, que aos poucos criava um planalto aos corpos.

O projeto foi desenvolvido junto da segunda dentição da Universidade Antropófaga e a execução conduzida pelo Mestre-de-Obras Dahora junto de sua equipe.

Utilizamos como matéria a madeira, pois no contexto do baixo do viaduto, ela tem uma vida útil bastante reduzida. A fim de não onerar o espaço, construir em diálogo, sem impor, mantendo aberto um espaço de conversa com o Espírito do Lugar, a madeira garantia esse espaço. Para que, se necessário, construir em uma matéria mais duradoura em um segundo momento.