manifesto indígena contra a destruição da maloca jaceguay
[Em julho de 2017, logo após o Arraiá Julino que fizemos junto da Maloca Jaceguay celebrando as águas de São Pedro, foi realizada uma violenta ação de remoção da Maloca por parte da prefeitura de São Paulo a mando do prefeito João Dória do PSDB. Polícia Civil, Polícia Militar, Tropa de Choque, chegaram às 5h da manhã destruindo os barracos e expulsando, os moradores, muitos deles famílias com crianças, sem lhes dar tempo de pegar seus pertences. Tamanha truculência provocou um incêndio de grandes dimensões. Graças aos encantados ninguém se feriu gravemente, e aqueles que haviam sido presos, foram soltos em seguida. Nesse contexto, nosso amigo parceiro Casé Angatu, que conhecia a Maloca, fez questão de escrever esse manifesto desde Olivença na Bahia.]
MANIFESTO INDÍGENA
CONTRA A DESTRUIÇÃO DA MALOCA JACEGUAI
NÃO À PRIVATIZAÇÃO DO BAIXO LIBERTAS
(BAIXOS DO VIADUTO JACEGUAI – SÃO PAULO/SP)
Um só Povo!
Nós, Coletivo de Índios moradores do Território Indígena Tupinambá de Olivença – Ilhéus/Bahia, formado por Casé Angatu, Bijupirá, Bakurau, Kaluanan, Boni, Porãn, repudiamos a violenta ação de destruição da Maloca Jaceguai ocorrida no dia 29 de julho e qualquer tentativa de privatização dos Baixos Libertas, Território localizado nos baixos do Viaduto Jaceguai – Bixiga na cidade de São Paulo – SP.
A Maloca Jaceguai e os Baixos Libertas constituem em conjunto um Território Popular Sagrados e precioso de moradias e convivências plurais que devem ter suas alteridades respeitadas e admiradas por todos os moradores da cidade de São Paulo e, especialmente, pelo poder público (municipal e estadual), que não pode atentar contra os que lá vivem a favor de interesses privados de alguns contrários à convivência pública.
Em junho deste ano (2017), nós que abaixo assinamos este manifesto, em conjunto com os moradores da Maloca Jaceguai, Povo do Terreyro Coreográfico, Instituto Bixiga e as pessoas que se achegaram, vivenciamos juntos nos Baixos Libertas (Baixos do Viaduto Jaceguai) dias de troca de saberes, expressões de cultura e sensibilidades valiosas numa cidade como São Paulo. “Pertencer à Terra … Escutar o Chão que Pisamos”, assim chamou-se esta convivência Encantada que nos deu certeza de que aqueles moradores tem suas ancestralidades ligadas à nós indígenas. Eles, assim como nós, somos (re)existentes a mais de cinco séculos de violências iniciadas pelas invasões europeias.
Neste convívio percebemos o quanto nós indígenas somos eles e o quanto eles são a gente. Por isto acentuamos que também somos com muito orgulho os moradores da Maloca Jaceguai. Nós indígenas compreendemos que aqueles assycueras (irmãs e irmãos) são migrantes e/ou filhos de migrantes (do norte, nordeste, interior e sertões deste país), muitos dos quais indígenas, que foram e continuam expulsos de suas terras ancestrais e originárias. Por isto, nós Indígenas que lutamos pela Demarcação Já de nossos Territórios também nos aliamos ao Povo da Maloca Jaceguai e todos os despossuídos da cidade em defesa de seus direitos.
Aos aliados da luta indígenas afirmamos: muitos nos perguntam: “como faço para apoiar a luta indígena?” Eis aqui uma das respostas possíveis: lutar pelos direitos dos despossuídos de riqueza material nas cidades e pelos direitos do Povo Preso (onde estão muitos de nossos Parentes) também faz parte da Luta Indígena. A luta Indígena deveria também ser a luta por uma nova sociedade que já carregamos naturalmente em nossos corpos, anga (alma) e (re)existência.
Por isto conclamamos à todas e todos a apoiarem esta luta da Maloca Jaceguai e dos demais moradores dos Baixos Libertas e que esse espaço continue sempre aberto ao Público.
Nós, pertencentes a este Coletivo, reconhecemos que muitos daqueles moradores do Baixo Libertas, assim como em outros lugares das cidades, são em suas ancestralidades nossos Parentes. São filhos, netos e/ou eles mesmo próprios expulsos dos Territórios Originários e Ancestral de diversos lugares deste país.
As agressões que eles sofreram e sofrem são agressões contra os originários moradores destas terras. Mesmo distantes, aqui em Olivença Indígena Encantada, estamos juntos com nossos assycueras (irmãs e irmãos) da Maloca Jaceguai e os que convivem nos Baixos Libertas. Juntos contra mais esta brutalidade dos brutos. Nós Pertencemos à Terra e Escutamos o Chão que Pisamos. Eles, os brutos, que não pertencem à terra e são surdos, passarão… nós passarinhos!!!!
Este Coletivo de Índios formado por Casé Angatu, Bijupirá Tupinambá, Bakurau Tupinambá, Kaluanan Tupinambá, Boni Tupinambá, Porãn Tupinambá repudia a destruição das moradias e expulsão dos Moradores da Maloca Jaceguai. Assim como exigi nosso direito Sagrado ao Território Ancestral e Originário, da mesma forma demandamos o retorno dos moradores da Maloca Jaceguai onde construíram suas casas e garantias que não serão mais expulsos ou sofreram violências. Ao mesmo tempo somos contrários a qualquer tentativa de privatização daquele espaço – Baixos Libertas – e/ou restrição aos coletivos que lá realizam suas convivências.
Desde Olivença Indígena Encantada cantamos:
“Devolvam Maloca Jaceguai Maloca Jaceguai nos pertence Não privatizem Baixos Libertas Baixos Libertas nos pertence!”
Ybaka Uru
Paranã Pira
Taba Awa
Céu do Pássaro
Mar do Peixe
Cidade do Povo
(Casé Angatu)
AIÊNTÊN MALOCA JACEGUAI !!!
AIÊNTÊN BAIXOS LIBERTAS !!!!
Assinam este Manifesto os indígenas do Coletivo de Índios que conviveram no Baixos Libertas com o Povo da Maloca Jaceguai, durante o inCurso Pertencer à Terra – Escutar o Chão que Pisamos – Junho/2017
Casé Angatu Xukutu Tupinambá
Bakurau Tupinambá
Bijupirá Tupinambá
Boni Tupinambá
Kaluanan Tupinambá
Porãn Tupinambá