Baixo Libertas

[abr 2015  ago 2016]

Baixo Libertas – Sampã/ SP

Encruzilhada das ruas Jaceguay, Abolição, Major Diogo e Professor Laerte Ramos

Matéria: fragmentos de rochas, terra, brita, paralelepípedo e concreto usinado.

projeto não finalizado

Projeto para firmar o ponto do Baixo Libertas enquanto espaço sagrado ao público, terreiro urbano. Foram vários os desenhos e estudos que fizemos ao longo dos dois primeiros anos de trabalhos intensos nos baixios do viaduto. Alguns desenhos focados inteiramente em estudos das coreografias das águas nos baixios, de como criar ali um circuito auto-suficiente de circulação das águas, através de captação da água da chuva pelo viaduto e armazenamento em um reservatório na parte mais elevada do terreno, onde o viaduto encontra a rua 14 de julho. Estudando os vários estados e usos da água: córrego, piscina pública, bebedouros, roda d’água, altar da água e banheiros.

Nos últimos desenhos que fizemos, o projeto se focava mais na permeabilidade do espaço como um todo. Na coreografia dos seus fluxos entre dentro e fora, borrando esse limite. Na sua execução, trata-se muito mais de retirar o excesso de matéria bruta que tornava o espaço impermeável. Impermeável ao olhar, aos usos públicos, à água da chuva, etc. Tirar muros, tirar a capa de concreto do piso que sufocava a terra desde pelo menos 1969, mas talvez mais tempo. Ampliar a área de terra e consequentemente a presença das plantas no baixo. Possibilitar um respiro maior à vida presente ali. Cultivar a vida.

Desenhar a topografia sem apelar para a violência da planificação do terreno, tirar partido da sua inclinação e desnível para criar curvas de nível que suavizam a passagem do passeio para o interior do baixo, tornando-o convidativo à presença e à permanência.

Instaurar ali um espaço de convívio, de encontros, trocas, práticas corporais, artísticas, esportivas, espaço lúdico aberto à criatividade das crianças, mas também ao descanso, à conversa, ao comércio local. Para isso, propomos construções simples e pouco invasivas, de bancos e mesas de concreto, cujas formas e desenhos irregulares e paleta de cores entre o amarelo e o verde passando pelo vermelho e azul, garantiam usos diversificados e um aspecto lúdico ao espaço, inclusive que poderiam ser usados como camas no período da noite, pelo Povo da Rua. Vale dizer que em muitos aspectos o projeto materializa os aprendizados que tivemos com eles durante nossos trabalhos diários no baixo.

Uma banca de jornal, inexistente nas redondezas, com cadeiras em volta para o estar. Um quiosque de coco do Magrão, vendedor de coco tradicional na região. Uma floricultura na área mais opressiva do viaduto, onde o tabuleiro encontra o nível da via, onde há frestas no viaduto por onde a luz entra angulosa, ali onde mais pedia uma circulação do ar e da energia.

Importante ressaltar a necessidade de integração entre os dois lados dos baixios, cortados pela rua Major Diogo. Projetamos uma faixa de pedestres de paralelepípedos que se espraiam de um lado e de outro, costurando uma área que une os dois lados e obriga os carros a transitarem com velocidade reduzida, facilitando também essa costura através da travessia das pessoas.

Chegamos a apresentar o projeto para duas gestões da prefeitura de São Paulo, em 2016 para o então prefeito Fernando Haddad, que elogiou o projeto e pediu diretamente ao então subprefeito para seguir as negociações conosco, sem êxito, e na gestão seguinte de João Dória, via subprefeitura da Sé, que nos recebeu em uma primeira reunião e depois não nos respondeu mais. Vale dizer que o projeto seria doado por nós ao público.Mesmo não tendo realizado o desenho que fizemos, nosso maior empenho, que era firmar o ponto do Baixo Libertas como espaço sagrado ao público, se realizou. Conforme trabalhávamos no Canteyro de Obras os moradores do bairro foram se aproximando do baixo e realizando também outras atividades. Alunos de uma escola de teatro do bairro ensaiavam ali, crianças andavam de bicicleta, o Povo da Rua se sentia protegido e pernoitava no Baixo. Dissidentes da escola de samba Vai-Vai davam aulas de bateria de escola de samba aos domingos. Festas de dia-das-crianças, competição de boxe, etc. A formação da Maloca Jaceguay, uma auto-organização do Povo da Rua do entorno em uma comunidade. Até que em 2017 firmou-se ali uma escolinha de futebol, a Arena Bela Vista, projeto social do bairro para o bairro. Nesse sentido entendemos nosso projeto finalizado.